Desvendando o BPC para Autistas: Como Garantir a Aprovação do Benefício?

Entenda os desafios na obtenção do BPC para autistas e como advogados previdenciaristas podem atuar com laudos médicos detalhados e avaliações sociais precisas. Leia o guia completo!

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é uma assistência vital garantida pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) – Lei nº 8.742/1993, destinada a pessoas com deficiência e idosos em situação de vulnerabilidade socioeconômica. A obtenção deste benefício por pessoas autistas, no entanto, enfrenta desafios significativos, principalmente devido à necessidade de comprovação da deficiência e dos impedimentos de longo prazo.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é reconhecido pela Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) como uma deficiência para todos os efeitos legais. No entanto, a prática de concessão do BPC pelo INSS exige uma avaliação médica e social detalhada. Este artigo discute a importância dos laudos médicos e da avaliação social na instrução do pedido de BPC para autistas, além de oferecer estratégias para advogados previdenciaristas atuarem com eficácia nesses casos.

Entendendo o Conceito de Deficiência no BPC para Autistas

O BPC não se baseia apenas no diagnóstico médico, mas também na análise do impacto que a condição tem na vida do requerente. Segundo o artigo 20, §2º da Lei nº 8.742/1993, é considerada pessoa com deficiência aquela que apresenta impedimentos de longo prazo (mínimo de dois anos), de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que a impeçam de participar plena e efetivamente na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) ampliou o conceito de deficiência para incluir barreiras sociais, educacionais e comunicacionais. Para autistas, o desafio é demonstrar que os sintomas do TEA causam impedimentos significativos na vida cotidiana e na inclusão social, independentemente da gravidade do transtorno.

Recentemente, a Turma Nacional de Uniformização (TNU) afetou o tema 376, questionando se o diagnóstico de TEA dispensa a avaliação biopsicossocial para caracterizar a condição de Pessoa com Deficiência na análise do direito ao BPC. Este julgamento é crucial e aguardado para esclarecer a necessidade de avaliações detalhadas em casos de TEA e uma forma de se ampliar a segurança jurídicas nas decisões. 

A Importância Crucial dos Laudos Médicos e Avaliações Sociais

1. Laudo Médico: Elemento Fundamental da Comprovação

O laudo médico é essencial no processo de requerimento do BPC. Um erro comum é a apresentação de laudos genéricos que não detalham o impacto funcional do transtorno. Um laudo adequado deve incluir:

  • Diagnóstico completo com CID-11;
  • Descrição detalhada dos sintomas e impactos funcionais;
  • Evidências de impedimentos de longo prazo;
  • Necessidade de acompanhamento terapêutico contínuo;
  • Evolução do quadro clínico e prognóstico.

2. Avaliação Social: O Papel da Assistência Social no Pedido do BPC

A avaliação social, realizada por assistentes sociais do INSS, é crucial para comprovar as barreiras enfrentadas pela pessoa autista. Ela considera:

  • Grau de dependência de terceiros para atividades básicas;
  • Dificuldades no ambiente escolar ou profissional;
  • Impacto do transtorno na interação social e na vida comunitária;
  • Condições socioeconômicas da família.

A Portaria nº 2 de 30 de março de 2015 e seus anexos são fundamentais para orientar os clientes nas perícias administrativas, destacando as peculiaridades dos autistas que não são abordadas nas perícias atuais do INSS, o que frequentemente leva a indeferimentos.

Principais Motivos de Indeferimento e Como Contestar

Muitos pedidos de BPC para autistas são negados devido a laudos médicos superficiais, avaliações sociais inadequadas, interpretação restritiva do conceito de deficiência, ou renda per capita acima do limite. Para contestar um indeferimento, pode-se optar por recurso administrativo ou ação judicial, apresentando laudos detalhados e relatórios que demonstrem as dificuldades enfrentadas.

Estratégias para Advogados Previdenciaristas

Advogados devem orientar seus clientes sobre a importância de laudos detalhados, analisar cuidadosamente as avaliações sociais, buscar precedentes jurisprudenciais e explorar vias administrativas antes de judicializar o caso.

O ideal é analisar a melhor estratégia. Considerando o indeferimento por não reconhecimento da deficiência, em regra, o judicial é o melhor caminho.

Conclusão

Este artigo explorou as complexidades envolvidas na obtenção do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Discutimos a importância de entender profundamente o conceito legal de deficiência conforme estabelecido pela legislação brasileira, incluindo a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e a Lei Brasileira de Inclusão. Além disso, destacamos a necessidade crítica de laudos médicos detalhados e avaliações sociais precisas, que são fundamentais para demonstrar os impedimentos de longo prazo e as barreiras sociais enfrentadas por autistas.

A análise incluiu uma discussão sobre as diretrizes da Turma Nacional de Uniformização (TNU) e a relevância da Portaria nº 2 de 30 de março de 2015, que orienta as perícias administrativas. Esses documentos são essenciais para advogados previdenciaristas que buscam fundamentar adequadamente os pedidos de BPC, garantindo que todos os aspectos do transtorno e seus impactos sejam considerados.

Enfatizamos também os desafios frequentes no processo de solicitação do BPC, como laudos inadequados e avaliações sociais superficiais, que muitas vezes resultam em indeferimentos injustos.

Finalmente, este artigo serve como um recurso para advogados previdenciaristas que representam autistas, fornecendo-lhes as ferramentas necessárias para o sucesso no sistema de seguridade social. Ao garantir que os direitos dos autistas sejam defendidos de maneira eficaz, os advogados desempenham um papel crucial na promoção da justiça e na inclusão social, reforçando a dignidade e o respeito pelas necessidades dessa população vulnerável.

Ao concluir, esperamos que este artigo tenha oferecido insights valiosos e práticos para advogados e demais interessados na advocacia previdenciarista, destacando a importância de uma abordagem meticulosa e informada na obtenção do BPC para autistas.

Por fim, convido você, leitor, a acompanhar meu perfil no Instagram @laisblumk e conferir os demais artigos relacionados.

Eventos

Fique por dentro de nossos eventos

Saiba mais

Os melhores conteúdos, dicas e notícias sobre direito previdenciário

Confira as últimas novidades em nosso blog

INSSAposentadoriaÚltimas notícias
TRF3 reconhece vínculo de empregada doméstica com base em julgamento com perspectiva de gênero

TRF3 reconhece vínculo trabalhista e garante aposentadoria a empregada doméstica com base em julgamento com perspectiva de gênero.

Por Equipe IEPREV em 13 de Junho de 2025

Salário-maternidadeÚltimas notícias
Justiça Federal do Paraná garante direito a salário maternidade para pai que obteve guarda definitiva do filho

Justiça reconhece que o salário-maternidade pode ser pago ao pai em casos de guarda unilateral. Decisão reforça a função protetiva do benefício à criança.

AuxílioÚltimas notícias
TRF4 relativiza laudo pericial e restabelece auxílio-doença para costureira com síndrome do túnel do carpo

Costureira volta a receber auxílio-doença após TRF4 considerar conjunto de patologias ocupacionais

Por Lucas Cardoso em 6 de Junho de 2025

Ver todos